O cantinho do Pim

23 fevereiro 2006

A voz que não morreu*

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (ZECA AFONSO) morreu em Setúbal, a 23 de Fevereiro de 1987, faz hoje precisamente 19 anos. A sua voz, essa, continua viva, pelo menos neste reino onde habita a princesa Maria Rita. Lembrou-se desta data a Papu e eu não podia ficar indiferente.
A voz de Zeca conviveu comigo na minha infância (o meu pai fazia o favor de ouvir sem se cansar) e continuará a conviver. Símbolo da alvorada de Abril, combateu a ditadura com a melhor arma: o pensamento! Aqui fica a homenagem do cantinho a uma pessoa muito especial, cuja voz soou como aviso naquela madrugada de 1974.

Canto Moço

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca

(Zeca Afonso, 1929-1987)

*título gentilmente sacado à Papu, que fez (e bem) o favor de lembrar ao mundo esta efeméride

22 fevereiro 2006

Oh, sr. Benitez, nem o Penafiel joga assim na Luz ou... 1-0, ao intervalo

Será que alguém explica ao señor Benitez que já nem o Penafiel joga assim na Luz? Deprimente ver o campeão europeu colocar dez homens atrás da zona onde andava a bola, a defender com tudo e todos, a limpar a área com pontapés longos, sem nexo. Enfim, nada mais do que o futebol inglês deturpado por um treinador avaliado em qualquer coisa como 100 mil contos por mês. A fazer lembrar outro, também aqui da Ibéria. Isto de cair nas boas graças...
Agradeceu o Benfica e, assim, vale o golo de Luisão (o bom gigante dos grandes momentos) para uma vantagem que me parece muito preciosa. E, na minha opinião, suficiente. A malta faz um esforço e, por uns dias, até vos atura, vá. Que, hoje, o Barcelona faça o mesmo, então...

19 fevereiro 2006

Relato de uma noite na montanha



«Vamos ao cinema!» Deixámos a Maria Rita at granpa’s home e, para fugir à confusão ruidosa dos pipoquistas, siga até ao Londres. «O Segredo de Brokeback Mountain ou Match Point?» Apesar de fãs de Woody Allen, escolhemos Ang Lee. Capuccino maravilha no Magnólia e allez para as cadeiras brutais da sala de projecção, estilo ficção científica enquanto descem lentamente até à posição final.




Apagam-se as luzes, o ecrã abre-se numa imensa paisagem do Wyoming ao final de tarde. Os acordes perfeitos, lentos, simples, da guitarra de Gustavo Santaolalla concedem-lhe um toque de beleza subtil. Os silêncios, o esplendor e grandiosidade das paisagens, o isolamento, os diálogos, os silêncios outra vez, os acordes de Santaolalla novamente, tudo flui na velocidade certa, com a fotografia certa (parece mesmo que estamos nos anos 60 numa qualquer cidade norte-americana do interior onde os cowboys continuam a ser reis e senhores), tudo avança no ritmo certo, prendendo-nos, e agora falo por mim, como há muito não me acontecia numa sala de cinema.



Depois, depois há as actuações de Heath Ledger e de Jack Gyllenhaal, respectivamente Ennis del Mar e Jack Twist, dois homens diferentes, ambos rudes à sua maneira, ambos solitários e algo tristes, ambos com projectos de casamento, de constituição de família (o que acaba por acontecer), mas que, na sequência de uma rápida mas forte amizade, acabam por apaixonar-se na montanha de Brokeback, dando início a uma relação proibida e escondida durante mais de 20 anos, clara prova de que o Amor é mesmo uma força da natureza, como refere o slogan do filme. Dois actores, sobretudo Ledger (fantástico, de ir às lágrimas), que, com este filme, entram directamente na história do cinema.



Esqueçam aqueles que esperam assistir a um filme gay ou sobre gays. É certo que a primeira cena de sexo entre os dois é de um desconforto incrível, não por qualquer tipo de preconceito, mas porque Ang Lee consegue colocar-nos de forma impressionante no interior daquela tenda no meio da montanha, quase como intrusos numa cena de amor à qual não pertencemos, mas este realizador vai mais longe, muito mais longe. Faz-nos estar ao lado das personagens, faz-nos torcer pelo amor delas, prende-nos, suspende-nos a respiração, provoca-nos súbitas acelerações de ritmo cardíaco, numa tempestade de emoções que culminará, certamente, em muitas lágrimas na cena final do filme. «Jack, i swear you...», diz Ennis. O ecrã fecha-se, de novo, na mesma imensa paisagem do Wyoming ao final de tarde, ao som dos acordes perfeitos, lentos, simples, da guitarra de Gustavo Santaolalla, ao som dos silêncios, do esplendor e grandiosidade das paisagens, do isolamento... Apagam-se as luzes.



Impossível não estar triste, não sentir um estranho aperto no estômago, uma angústia terrível, nada aconselhável em dias cinzentos, em horas menos positivas. Ang Lee faz-nos pensar. Na vida, na incessante procura dos nossos sonhos, na arrebatadora força do amor. E, por isso, já venceu, já ganhou um lugar entre os grandes.De quem fez o Tigre e o Dragão (com mestria única, registe-se), esperava-se tudo menos um Brokeback Mountain, uma obra-prima que ressuscita, e isto foi o que achei mais curioso, o registo do melodrama que havia caído em desuso durante os anos 90.



Saio da sala escura do Londres. A tempestade brutal que se abatera sobre Lisboa durante o intervalo parece ter acalmado. A pedido da menina que me acompanhava, ligo para casa dos papis Pim a saber da Maria Rita. «Tudo bem, está a dormir. Olha, o Benfica perdeu e o Sporting está a ganhar 1-0 ao intervalo. Viste a ventania e a chuvada, filho?» Regresso lento à vida real, ao nosso mundo, depois desta longa (pareceu tão longa) jornada à montanha de Brokeback.Havia muito mais para escrever sobre este filme, mas estaria a estragar o prazer de quem ainda não viu... Por isso, se puderem, não percam!

18 fevereiro 2006

Pérolas do Prof. Agostinho para a minha grande amiga

Depois de duas postas consecutivas com referências à minha humilde pessoa, não podia ficar indiferente. Por isso, para a minha grande amiga Innocent, aqui ficam umas pérolas do nosso Agostinho da Silva, anotadas ontem durante um documentário sobre a vida do eterno jovem que falava 15 línguas e não perdia os desenhos do Calvin. Porque sei que vai gostar.

«É tão bom sonhar com os pensamentos e pensar com os sonhos»

«Claro que nunca penso na minha morte. Como nunca morri, ela não existe. Por isso, não tenho de pensar nem de pronunciar-me sobre esse tema. Nada sei sobre ele. Deixem-me morrer primeiro que, depois, se conseguir, eu comunico com vocês e, como sou vosso amigo, conto-vos como ela é»

«Uma coisa, quando passa a ser apenas essa coisa, deixa de ser todas as outras. E isso é triste. Nós temos de ser tudo. Deixem-me ser tudo!»

«É muito raro ler jornais... A não ser o Público, por causa do Calvin»

E para terminar, a brutal:
«Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles forem meus, não seus. Se o criador o tivesse querido juntar a mim não teríamos talvez dois corpos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem»

Sobre ele, na hora da sua morte, alguém disse:
«De olhar profundo, sereno, foi lentamente regressando ao local de onde veio: o Futuro!»

17 fevereiro 2006

Valeu Danny


A missão de babysitter a tempo inteiro tem destas coisas, como por exemplo acordar cedo. Se assim não fosse, dificilmente teria levitado da cama rumo à sala para ver Danny Silva, o nosso rapaz nos Jogos Olímpicos de Inverno. Eram 9h04 quando pegou nos skis e ala rumo a 15 quilómetros na versão clássica do ski de fundo. Valeu o esforço, Danny! E foi giro ver a nossa bandeira em versão digital com a neve como pano de fundo! Só por isso, obrigado, Danny! Passemos aos factos... Ontem, em conversa com o Noé Monteiro da RTP, o rapaz dizia, com piada, para não esperarmos medalhas. Quase uma hora depois da partida, deu para perceber a impossibilidade de tal cenário. Mesmo que, no instante em que terminava a sua prova, Danny tenha visto ao lado do seu nome o sempre mítico Rank 1. Mas faltava a chegada de 85 gajos. A partir daí foi o fim. Em apenas 15 quilómetros, Danny ficou a 16 minutos do vencedor (Andrus Veerpalu, da Estónia) e conseguiu ficar atrás de um brasileiro, de um iraniano e, isto é verídico, de um queniano e de um etíope (!!!).

Para mim, chega o facto de ele ter chegado lá, de ter conseguido os mínimos. E, hoje, fez um pouco melhor do que isso: conseguiu ser mais rápido do que cinco esquiadores! Para quem treina no asfalto, nada mau, Danny!

15 fevereiro 2006

Babysitter Pim

Como já começaram os protestos, aqui fica o esclarecimento: a minha provável ausência (chamemos-lhe férias...) deste cantinho nos próximos tempos deve-se ao facto de estar a gozar a tempo inteiro o meu estatuto de pai... O Estado dá os 15 dias de paternidade, a gente goza, a linda e doce Maria Rita agradece! Se não for antes, então até dia 1 de Março. Beijos e abraços «a tutti i visitanti!»
Assinado: Babysitter Pim

10 fevereiro 2006

Vida no campo (I)



E de repente, aconteceu isto no meu «jardim»... Mééé!

06 fevereiro 2006

Eles lá sabem...

«Visitem frequentemente os amigos!
É que os arbustos crescem depressa
nos caminhos pouco percorridos»
(Provérbio escandinavo)

Uma questão de chuteiras

Costinha, um dos capitães da Selecção Nacional, está em rota de colisão com o Dínamo Moscovo. A explicação oficial prende-se com o seguinte: é norma do clube russo que cada jogador limpe as suas chuteiras (uma vez que não existe roupeiro nem, já agora, departamento médico ou balneários) e Costinha recusa-se a fazê-lo, alegando que enquanto futebolista a sua missão não é limpar botas. Então, um clube que paga 60 mil contos por mês a um jogador não tem dinheiro para um roupeiro. Já sei que algumas virgens ofendidas virão dizer que o rapaz está com a mania que é estrela e tal e que, coitadinho, não pode limpar a botinha e que precisa de criados... Não se trata disso.
Eu, por exemplo, faço os possíveis por não sujar as ruas mas ainda bem que existe quem as limpe, etc, etc, etc. Qualquer dia, vêm pedir-me que traga para o trabalho a esfregona e o pano do pó para limpar a minha secretária e lavar o chão em redor dela...

04 fevereiro 2006

Ao contrário do futebol...

... aqui a intensidade conta!





Os seus beijos causam taquicardia, mas da boa. São momentos inesquecíveis e arrebatadores

Gentilmente sacado nas histórias da caríssima

03 fevereiro 2006

E o vencedor do horror de Munique-72 é...

Acerca do filme Munique, que hoje estreou em Portugal, acabei de ver na SIC, uma GRANDE reportagem acerca dos factos que resultaram na nova obra de Steven Spielberg, ou seja, o plano e a execução do assassinato de todos os palestinianos do grupo Setembro Negro, envolvidos nos actos terrostistas que levaram à morte de onze atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
Uma reportagem que termina com uma declaração da viúva de um desses atletas e que expressava qualquer coisa como:
«Em memória dos mortos naquele dia negro, nós, as viúvas, juntamo-nos em 1996 e, na companhia dos 14 órfãos resultantes do ataque de Munique, marcámos presença nos Jogos de Atlanta. Sabia que, na cerimónia de inauguração, quando entrasse a delegação israelita, os aplausos deles [os órfãos] seriam comoventes... Perguntei-lhes o que fariam quando entrasse a delegação palestiniana. Responderam-me, timidamente, que aplaudiriam igualmente. Receava que assim não fosse. Mas, no momento em que entraram os atletas da Palestina, seres humanos que afinal nada tinham a ver com o sucedido anos antes, o aplauso deles e do público norte-americano foi ainda mais forte. Ainda mais comovente. Era a certeza de que, perante tal aplauso, o ódio, uma vez mais, não tinha vencido! E essa é a grande vitória que resulta da morte do meu marido, um grande atleta, um grande vencedor!»

01 fevereiro 2006

Estranhos hábitos

Querida Papu:

Devo também eu confessar que não sou grande adepto dessa história das correntes, mas, uma vez que se trata de uma amiga bloguiana, cá vai a resposta ao desafio com os cinco estranhos hábitos (vão um bocadinho a quente porque nem tive tempo para pensar) do proprietário deste cantinho:

- Separar lixo. E encher o carro com papéis e outras coisas semelhantes por, simplesmente, ser incapaz de deitar um papelinho que seja no chão - algo estranho, muito estranho, por estas paragens lusitanas;

- Nada fazer de manhã enquanto no bucho não estiver, pelo menos, uma sandes, um copo de leite, um café e um cigarro... Só depois vem esse mau hábito da higiene diária, do beijinho na Maria Rita, etc, etc... A comida em primeiro, sempre!

- Ler (muito, diariamente) na casa-de-banho. Isto é, despachar a coisa e, depois, ficar sentado «no escritório» durante (mínimo) meia hora, ao ponto de, raramente, me levantar sem ter uma das pernas completamente adormecida (ui, e o que dói depois...);

- falar com a minha filhota em japonês (simulado, obviamente) e, pelo enorme sorriso dela, acreditar mesmo que ela está a entender-me. E, por isso, continuar a fazê-lo sem parar;

- fazer a frio a pouca barba que tenho, ou seja, simplesmente com águinha, lâmina e nada mais.

E fazendo minhas as palavras da Papu, na hora de escolher as vítimas de continuação da corrente, sintam-se à vontade para quebrá-la, se não estiverem para aí virados!

Innocent
Misunderstood
Xano
Navegante
Marta

Allez!

«Gandas gaijas»

Ao que escrevi no Café, acrescento agora a respectiva imagem das meninas que tiveram a coragem de chegar-se à frente e gozar o direito de se casarem. Só me apetece gritar: «GANDAS GAIJAS»!!!

Foto AP/Gustavo Bom


 

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