Não deveria indignar-me ou ficar em estado de choque com estas coisas. Mas não consigo evitar. Esta tarde, o meu carro visitou um daqueles centros de inspecções periódicas (CIP). Ponto prévio: saí de lá com a cartinha verde, ou seja, aprovado.
Pior mesmo foi tudo aquilo a que assisti antes: meia dúzia de mecânicos a movimentarem-se no local como se estivessem em casa, a distribuirem sorrisos a inspectores(as) a torto e a direito, a perguntarem à frente de tudo e de todos «se valia mesmo a pena fazer a inspecção uma vez que já sabiam que os carros seriam aprovados», a passarem à frente de pessoas que tinham tirado senha de vez, com a conivência dos funcionários do CIP, etc, etc, etc.
Pior ainda: ajudando à festa, eis que surge uma bela moça na recepção do CIP e tira a sua senha. Dois minutos depois, dirige-se a um dos inspectores, cumprimenta-o com dois beijos e regressa ao local do crime, ultrapassando, num ápice, as dez pessoas que estavam à sua frente na lista de espera (ai que sorte, eu estar nesse mesmo instante a terminar o pagamento da coisa...) e inscrevendo-se, não sem antes acrescentar um bem ensinado: «Tenho aí a marcação não tenho?» Pois deves pensar que somos otários, oh minha ganda p#%&!!!
Bom, antes de sair do local, já com a inspecção terminada, perguntei, «só por curiosidade», quantos carros, dos últimos 20, tinham sido aprovados. «Curiosamente, todos!», responderam-me. Pois, curiosamente...
Mesmo considerando que alguns tinham um ar bastante suspeito, a minha preferência era acreditar que, pronto, estavam aptos a andar na estrada; agora, que o que aconteceu antes é muito suspeito, lá isso... Experimentem uma inspecção nos dois últimos dias do mês e depois digam-me qualquer coisa.
E agora a dúvida:
As centenas de carros que vemos diariamente a libertar toneladas de fumos tóxicos, a fugir por todos os lados quando travam, com luzes fundidas, pneus carecas, etc, etc, foram inspeccionados onde e por quem?
E já agora que conhecemos a percentagem de pessoas que morre anualmente na estrada devido a alcool ou a erro humano, qual será a percentagem de acidentes resultantes de erros técnicos (leia-se, resultantes do descaramento destes inspectores da tanga)?
NÃO BRINQUEM COM A VIDA DAS PESSOAS, PÁÁÁ!!!
P.S.: eu já desconfiava que isto funcionava assim; hoje, em hora e meia, fiquei com a assustadora certeza.